sábado, 14 de maio de 2011

Os meteoros não mataram os dinossauros



Ted Nield, ex-presidente da Associação dos Escritores Britânicos de Ciência, enfrenta uma batalha inglória: acabar com a má fama dos meteoros. Em seu livro recém-lançado, Incoming! or, Why We Should Stop Worrying and Learn to Love the Meteorite (A chegada! ou, Por que Nós Devemos Parar de Temer e Aprender a Amar os Meteoritos, inédito em português), o geólogo britânico defende esses corpos celestes — fragmentos de asteroides, cometas ou de planetas desintegrados — e diz que eles estão longe de nos causar algum mal. Em entrevista à GALILEU, ele explicou por que os meteoros são tão importantes para a ciência. E, ao mesmo tempo, nos causam tanto medo e fascínio.




* Por que não devemos ter medo dos meteoros?


Eles não trazem desastres e mortes? Nield: Essa é uma impressão que carregamos desde 1980, quando foi descoberto que os dinossauros — e todas as outras espécies que sumiram na grande extinção que ocorreu há 65 milhões de anos — foram aniquilados, em parte, por um grande choque de meteoro. Acredito que essa foi apenas uma entre muitas causas. Assim como tivemos cinco grandes extinções nos últimos 600 milhões de anos e somente uma foi ligada à queda de meteoro. Além disso, novas evidências mostram que há 470 milhões de anos aconteceu um bombardeamento massivo da Terra por meteoros que parece ter tido o efeito oposto e aumentado a biodiversidade do planeta. A teoria é que os meteoros esterilizaram uma área de centenas de quilômetros, onde teriam surgido novas espécies.


* Afinal, eles causaram a extinção dos dinossauros?


Nield: Não há dúvida de que um grande meteoro atingiu o planeta há 65 milhões de anos e ajudou os dinossauros a sumirem da face da Terra. Mas, quando os meteoros caíram, a vida desses animais já estava ameaçada, provavelmente pelos gases emitidos por grandes erupções vulcânicas na Índia. Hoje em dia, a chegada de um meteoro de dez quilômetros de diâmetro poderia não ser tão mortal, pois as condições da Terra são diferentes e não temos vulcões em erupção. A chance de morrermos devido a meteoros atualmente é 1 em 720 mil. O projeto Spaceguard, da Nasa, tem mapeado as órbitas de objetos próximos a Terra nos últimos 20 anos. Já identificou 75% delas e não descobriu nenhum meteoro capaz de nos atingir num futuro próximo.


* Quantas mortes já ocorreram pela queda desses corpos celestes?


Nield: Não há registro de mortes humanas causadas pelo choque de meteoritos (nome dado ao meteoro que atinge a Terra). Até a famosa história do cão que teria morrido quando um meteorito caiu na cidade de Nakhla, no Egito, em 1911, provavelmente é uma farsa para chamar a atenção sobre a cidade.


* Como a imagem deles mudou durante a história?


Nield: Na era pré-científica, antes da Renascença, as pessoas pensavam nos meteoros como presságios. Se eram bons ou ruins, dependia da posição social. Reis os encaravam como sinais de vitórias futuras. De vez em quando acertavam. Camponeses os viam como mau agouro, e, por razões misteriosas, nunca se enganavam.


* Qual seria a importância dos meteoros para a ciência?


Nield: Eles são os objetos mais antigos que alguém pode segurar. Os planetas se formaram a partir da nebulosa solar. Os meteoros são a parte dessa matéria primordial que nunca foi transformada em planeta.


* Você acredita na hipótese de que a vida tenha sido trazida por um meteoro e não surgida na Terra?


Nield: Os meteoritos contêm elementos químicos orgânicos — substâncias normalmente associadas à vida, mas que também se formam de modo inorgânico no espaço. Moléculas como aminoácidos, os “tijolos” das proteínas, são regularmente encontradas em alguns meteoros. A ideia de que a Terra teria sido semeada por essas moléculas, dando início à vida, não é cientificamente absurda. Só não foi comprovada.


* Isso tudo significa que deveríamos amar os meteoros?


Nield: O importante é que não deveríamos demonizá-los. Eles são um fenômeno natural, que pode ser tanto bom quanto ruim. Não deveríamos temê-los. Devemos entendê-los, e, se necessário, lidar com eles.




Fonte: RevistaGalileu

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